Arte urbana no interior da Amazônia: poéticas visuais sobre a cultura indígena

artigos Edição 37

Urban art in the interior of the Amazon: visual poets about indigenous culture

FREITAS, Kemerson de Souza. Arte urbana no interior da Amazônia: poéticas visuais sobre a cultura indígena. In: Aguarrás, vol. 8, n. 37. ISSN 1980-7767. São Paulo: Uva Limão, JAN/JUN 2021. Disponível em: <https://aguarras.com.br/arte-urbana-no-interior-da-amazonia/>. Acesso em: [current_date format=d/m/Y].

 

Resumo – Este artigo tem como objetivo analisar a arte urbana de Parintins através do método iconológico de Panosfky, na utilização das linguagens em graffiti e estêncil. Pesquisou-se os trabalhos de três artistas que usam a linguagem de graffiti como Anjo 7, Curumiz e Matos, que usam o estêncil como forma de intervenção urbana na cidade de Parintins. O trabalho aborda um olhar sobre as intervenções no sentido que estas se apresentam como um novo meio de arte na cidade, do acesso a ela, e apresentando as temáticas e objetivos dos artistas e o valor simbólico que elas carregam.

Abstract – This article aims to analyze the urban art of Parintins through the iconological method of Panosfky, using graphite and stencil languages. The research brings together the works of three artists who use the graphite language as Anjo 7, Curumiz and Matos who use the stencil as a form of urban intervention in the city of Parintins. The work approaches a look at the interventions in the sense that they present themselves as a new means of art in the city, of access to it, and presented the themes and objectives of the artists and the symbolic value that they carry.

Palavras-chave: Arte Urbana, Indígena, Iconologia.

Keywords: Urban art, Indigenous, Iconology.

Introdução

A arte urbana é um tema que vem sendo trabalhado e pesquisado pela abrangência de lugares onde se faz presente, um movimento artístico urbano que possui linguagens diversas e que constitui uma medição cultural e artística com a cidade, como o graffiti que segundo (FURTADO; ZANELLA, 2009, p. 1299)

[…] de forma peculiar, o estreitamento das relações entre atividade estética, cidade, política e espaço sob a perspectiva de sujeitos que vivem no próprio contexto da intervenção ou que nele se inserem para inscrever-se no diálogo aberto com a cidade. Através das imagens e dos textos, o graffiti propõe outra relação com o entorno urbano.

O graffiti, assim como outras linguagens da arte urbana como o estêncil, constrói relações do sujeito com o meio urbano, se torna um meio de comunicação capaz de instigar questionamentos e informar as pessoas sobre algo. Sendo um meio que comunica e se relaciona com a cidade, muitos artistas da Arte Urbana buscam trazer reflexões ou falar sobre a cultura do lugar onde se localizam, como os artistas do norte, especificamente no interior do estado do Amazonas, na cidade de Parintins, onde artistas estão utilizando as linguagens urbanas do graffiti e do estêncil para produzir falas da cultura indígenas, fazendo interferências urbanas de poéticas que partem de retratações e reflexões a cercas dos povos nativos da região amazônica.

Ao observar que essas produções estão crescentes na cidade de Parintins, faz-se necessário apresentar as obras em graffiti e estêncil presentes no ambiente urbano da cidade de Parintins[1]; artistas que trabalham com o graffiti e o estêncil na cidade e como essas intervenções urbanas proporcionam um novo meio de arte de Parintins, trazendo um acesso a arte por meio do movimento urbano, assim também realizar um levantamento bibliográfico das artistas de Parintins e catalogar os trabalhos dos artistas e os temas, poéticas abordados pelos artistas.

Para tanto foi necessário contextualizar sobre arte urbana: o que é e o processo histórico. Foram utilizados autores, que falam sobre o graffiti como todo elemento escrito ou desenhando entre espaços urbanos externos entre permissões ou não nas considerações do artístico de aceitação pela sociedade, Farthing (2011) apresenta a arte de rua como pós-graffiti da qual mostra que a partir do graffiti, do uso spray, nasce o street art, arte de rua, que conquistou espaços e admiração pois “muitos artistas pós-graffiti combinavam as técnicas de grafitagem com uma estética artística mais refinada” (FARTHING, 2011, p. 553), assim também autores que falam sobre a Arte de Rua, como os autores Hunter (2013) e Logman (2017), que exemplifica que todos os tipos de linguagens para utilização de interferências urbanas, como lambe-lambe, estêncil, murais e os escritos do graffiti (bombs, tags), estão inseridos na arte urbana. Assim também, será discorrido sobre a arte de rua na cidade de Parintins: como ocorre, que são os artistas que fazem este movimento ocorrer na cidade, e como surgiu pra que o graffiti e o estêncil ocorra em Parintins.

Ao se fazer a catalogação dos trabalhos dos artistas, a pesquisa teve como objetivo de fazer análise das obras, buscando saber quais as formas e conteúdos e valores simbólicos que elas apresentam, para isto foi utilizado o método iconológico de Panosfky (2009) que buscam interpretar e analisar a obra além das formas visuais, para (PANOSFKY, 2009, p. 33):

Quanto mais a proporção de ênfase na “ideia” e “forma” se aproxima de um estado de equilíbrio, mais eloquentemente a obra revelará o que se chama “conteúdo”. Conteúdo, em oposição a tema, pode ser descrito nas palavras de Peirce como aquilo que a obra denuncia, mas não ostenta. É a atitude básica de uma nação, período, classe, crença filosófica ou religiosa – tufo isso qualificado, inconscientemente, por uma personalidade e condensado numa obra.

Assim as obras que falam sobre a cultura indígena apresentam um conteúdo do movimento urbano na cidade entre influências e as práticas de se fazer e acontecer a arte urbana, em que se faz necessário usar o método iconológico de Panosfky. Este artigo aponta resultados do estudo sobre a arte urbana na cidade Parintins, abordada em primeiro momento a historicidade da arte urbana, suas peculiaridades com o graffiti e suas variadas linguagens. E, no segundo momento, apresenta um pouco do progresso até o momento da pesquisa, dos apontamentos dos artistas de entrevistas feita com os mesmos e os registros das intervenções na cidade.

A arte urbana da pré-história ao contemporâneo.

A cada momento a arte vem ganhando novos meios de produção, expressão do mundo visual, da qual a contemporaneidade abre gamas de possibilidades para construir imagens, objetos artísticos. Dentro dessas possibilidades podemos citar a arte de rua, o graffiti, meios artísticos que se insere no meio urbano, utilizando os muros, as paredes das cidades como meio expressão, ideias, ou apenas tornar a arte mais próxima as pessoas, que de tal forma, trazem um tom colorido de mais vida a urbanidade, interferência ao cotidiano decorrente.

A arte urbana em geral, está em evidência no mundo todo. Podemos notar que a caminhada deste movimento urbano não começa apenas na contemporaneidade, mas nos primeiros passos da arte e do ser humano, no início da história da arte. O primeiro passo é identificado como arte rupestre, uma arte mais voltada ao mundo religioso, onde os artistas se expressavam com incisões nos muros das cavernas com matérias orgânicos, em que “os artistas optavam por representar o mundo que viam ao seu redor e frequentemente retratam animais, as vezes formas humanas e, em alguns casos, sinais abstratos que talvez tivesse um significado espiritual.” (FARTHING, 2011, p. 17).

O ato gráfico em paredes está também presente na história do berço das civilizações como Grécia Antiga, povos Egípcios e Mesopotâmicos, com significados peculiares para cada cultura. Podemos observar na Roma antiga que o graffiti era usado pelas sociedades secretas como uma assinatura utilitária, incluindo símbolos como peixes utilizado pelos primeiros cristãos (HUNTER, 2013, p. 10).

Ao passar do tempo, a arte entra em confronto como o incômodo industrial, da urbanização cinzenta, do sistema hierarquizado, e foi por meio do graffiti que esse incômodo veio ser superado ou enfrentado. O surgimento do graffiti Logman (2017, p. 13) não “vem sujar o que está limpo, mas dá cor e ruído a algo que estava sujo, quebrado ou esquecido. Em vez de manchar, esconder ou desmoralizar a cidade, ele muitas vezes a revela […] denuncia”, este movimento de rua, inicia-se no fim da década de 1960 na Filadélfia, Estados Unidos, com marcas em metros conhecidos como bombing, tangs enraizada com os movimentos de Hip-Hop.

Saindo da ramificação do graffiti, do uso spray, nasce o street art, arte de rua, que conquistou espaços e admiração pois “muitos artistas pós-graffiti combinavam as técnicas de grafitagem com uma estética artística mais refinada” (FARTHING, 2011, p. 553), essas técnicas iam do estêncil ao lambe-lambe e, no decorrer do tempo, foram utilizados materiais além do spray para a produção da arte de rua.

Tanto um como outro buscam apresentar ideias, conceitos do próprio artista ou do movimento que está ligado ao artista, mas que ao todo, consegue abrir um novo visual a espaços de cidades de todo mundo, “a arte urbana deixou de ser apenas uma linguagem de expressão das ruas para se tornar um nicho especial da indústria turística na cidade” (LOGMAN, 2017, p. 129), dando uma vivacidade aos muros abandonados.

No Brasil, segundo Blauth; Possa (2012, p. 155) “o graffiti surgiu em meados da década de 1970, principalmente na cidade de São Paulo, com as intervenções realizadas pelos artistas Alex Valluri, Carlos Matuck, John Howard, entre outros”.

A arte urbana no Brasil é das mais significantes pois grandes artistas do movimento urbano são brasileiros como os Gêmeos, Eduardo Kobra, Crânio, entre outros. Produzem no Brasil e fora dos país, tendo como referência das maiorias das obras a cidade de São Paulo; assim os artistas trazem a brasilidade nas cores de gigantescos murais.

A arte de rua em geral vem ganhando espaços em muitas cidades. Capitais mundiais com grandes produções de murais e do graffiti tornaram-se galerias a céu aberto de obras de artistas famosos de representação das vertentes das intervenções de rua.

Artistas de representação destes movimentos vem ganhando espaços, defendo seus trabalhos, estilos e a auto intitulação como grafiteiro e muralista etc. Estas diferenças entre o movimento graffiti e o street art trazem um conjunto de pluralidades para propagação da arte no ambiente das cidades.

Mas qual as suas diferenças? O graffiti em si é o começo das manifestações nas ruas com uma ligação com o movimento hip-hop, em que “nos Estados Unidos e na Europa o termo graffiti refere-se, comumente, a toda escrita urbana, aos rabiscos nos metrôs, banheiros, nomes de gangs, tags que são assinaturas em spray dos writes ou escritores de rua” (FURTADO, ZANELLA, p. 1283, 2009).

O graffiti relaciona-se a um caráter mais voltado às letras mas que alguns grafiteiros constroem seus registros com imagens, conhecidas como personagens que compõem seus bomb, tags para uma criação visual para dá a característica do artista. Alguns autores buscam colocar a pichação dentro do globo do graffiti, outros buscam divergir já que “é comum distinguir graffiti de pichação, sendo que o primeiro está associado a uma pratica de natureza artística, enquanto o segundo é, basicamente, entendido como uma expressão ilegal sem motivação estética” (SPINELLI, 2007: VENTURA, 2009; CAMPOS, 2013 apud LIMA).

Entre conceitos do graffiti e a pichação, do que seria arte ou não, estes meios estão rodeando as cidades no mundo da contemporaneidade, da expressividade, do ilegal ao permitido, onde para muitos grafiteiros estes termos estão ligados, pois muitos começaram por meio do picho, que foi seu primeiro contato com as ruas e com o spray.

Já o conceito de street art utilizado para muitos autores se volta ao artista que busca trazer em seus trabalhos variados temas, saindo um pouco das letras, das tags, “em inglês, usa-se a expressão street art (“arte de rua” ou “arte urbana”) como expressão mais ampla, que inclui murais figurativos e técnicas que podem extrapolar o uso do spray, como stickers e lambe-lambes” (LOGMAN, 2017, não paginado).

A produção do street art está compreendida na potencialidade de construir imagens, de se amparar na visualidade de construir uma linguagem de artes com materiais diversos que não estejam aprisionados apenas ao uso da lata de spray, mas com o uso de materiais dentro de ateliês, como pinceis. Outro modo de se produzir é o uso da colagem de papéis conhecidos como lambe-lambes, que utilizam a criação de imagens, poemas ou cartazes para colar na superfície de muros das cidades.

Outro meio são os conhecidos stickers: pequenos adesivos utilizados como aparato para interferências urbanas, não tão chamativas, mas que também se relacionam com a urbanização. Além dos stickers, se insere também o estêncil, que utiliza moldes vazados de imagens já feitas, que, pela facilidade, são muitos utilizados por artistas para exprimir opiniões políticas com tom sátiro, numa dicotomia de spray e papel ou outro material vazado.

Entre os mais famosos meios de produção do street art está o conhecido mural, onde artistas buscam criar obras em grandes superfícies como prédios ou algo arquitetônico que se equipare ao mesmo. Os murais são trabalhos que exigem mais dedicação do artista pelo tempo elevado e pela objetivação artística que o autor quer apresentar aos expectadores, “o mural impressiona pelas dimensões, mas especialmente pela temática” (LOGMAN, 2017, não paginado).

O trabalho com imagens de grandes proporções ganha olhares pela sua liberdade de variáveis temáticas pelos artistas de rua que, de tal forma, se permitem a estar na contemporaneidade da arte, do mesmo modo como os escritos do graffiti, em produzir novos meios e possibilidades. De tal forma, o graffiti e o street art não são totalmente separáveis que segundo Logman (2017, não paginado) “os termos se cruzam, se misturam e se confundem nas diferentes línguas, usos e contextos”.

Podemos notar esse cruzamento entre os termos propriamente pelos artistas, no qual se observa que grafiteiros se aventuram no mundo dos muralistas, criando imagens entre a dinâmica da tinta jorrada pela lata do spray, em que “há vários artistas de rua que deixaram de marcar suas tags em janelas de trens, usando formas para produzirem obras de arte de rua inovadoras, como propósitos mais altruístas” (HUNTER, 2013, p. 11), e ao mesmo estes grafiteiros voltam a essencial do graffiti, fazendo que assim, segundo Hunter (2013) tenham uma indefinição, uma transição entre o graffiti e a arte urbana, como os grafiteiros brasileiros Os Gêmeos, que conseguiram o reconhecimento artístico através de seus murais, mas que ainda produzem os escritos do graffiti, sem deixar a essência, de suas relações do hip-hop.  Assim, há uma dinâmica, uma mescla entre ambas, a arte urbana e seus meios de linguagem como o graffiti, os estênceis entre outros, permitem suas possiblidades no âmbito de arte contemporânea, pelas variedades de linguagens utilizadas, e criações visuais que se ligam entre essências, conceitos e poéticas dos artistas; da utilização do spray ao uso de tintas látex, a arte se expande nos olhares e sentidos criados nos muros e suportes urbanos.

Arte Urbana em Parintins: produções nas vertentes do graffiti e do estêncil na cidade e seus artistas.

A Arte urbana se propagou em vários lugares do mundo, cidades são tomadas por intervenções artísticas no meio urbano, em que artistas se apropriam de espaços dessa urbanidade como suporte para suas produções. Não distante deste momento mundial da arte urbana, na região norte, esse movimento urbano chega e toma caráter da cultura do local. Os artistas da região norte construíram uma arte urbana amazônica, onde as poéticas destes artistas exprimem suas visualidades e pensamentos sobre a identidade da cultura do povo do norte como no estado do Amazonas, especificamente na cidade de Parintins, cidade objeto de estudo. Ao analisar a arte urbana neste local, percebe-se que é um movimento novo, e com pouco artistas em busca da expressão por meio da urbanidade. Há um paradoxo em tantos artistas e o ao mesmo tempo ser um movimento de rua com a arte urbana com poucos produtores. Essas questões podem estar na cultura artística da cidade ou no interesse de se comunicar ao movimento da arte de rua, pelo sistema cultural e artístico da cidade que voltar-se para o boi-bumbá. Além disso, a busca da manifestação na urbanidade é relacionada com os materiais usados para produzir essa intervenções urbanas e também o pré-conceito a cerca do graffiti como arte marginal, da pichação. Os poucos artistas que fazem a arte de rua acontecer na cidade de Parintins encontram a solução através da troca de contato e influências do graffiti e dos grafiteiros da capital do Amazonas, Manaus, onde há uma cultura forte do hip-hop, do graffiti. Assim, os artistas da rua parintinense buscam construir um novo movimento artístico na cidade.

Diante dessa situação, o que nota-se é que a arte de rua na cidade de Parintins vem ganhando forças no meio artístico da cidade, despertando olhares entre interferências artísticas nos muros que, antes abandonados, ganharam outro significado na cidade, e que “meramente tentando agregar beleza ao ambiente, na qual está inserido” (BLAUTH; POSSA, 2012, p. 159) se tornam uma arte de rua.

Os poucos artistas que estão na produção da arte de rua, usam a linguagem do graffiti e do estêncil, trazendo um novo meio visual ao cotidiano parintinense. Para tanto, a pesquisa tem um caráter metodológico de exploração de campo, aonde no meio urbano buscou-se encontrar as produções nas ruas e seus artistas. Foram encontrados produtores da arte urbana em Parintins, como Matos (Josinaldo Matos), Anjo VII (Arley Fabricio) e a dupla Curumiz (Alziney Pereira e Kemerson Freitas).

Com eles foram feitas pequenas entrevistas sobre a trajetória artística de cada um, referências artísticas e objetivos como atores da arte urbana na cidade. Além disso, a pesquisa fez a catalogação por meio do registro fotográfico do trabalho dos artistas.

O primeiro artista urbano é Matos, que usa a linguagem do estêncil arte para fazer intervenções urbanas na cidade de Parintins. Matos começou seu interesse pelo estêncil como forma artística através de um curso sobre essa linguagem em Manaus. Ele observava o movimento dos artistas cidade que usavam o graffiti e o estêncil e percebeu o prazer de produzir a arte na urbanidade.

Nessa troca de conhecimento, o artista buscou então trazer para Parintins produções de variados temas com a utilização do estêncil. Matos é professor e viu-se preso por ensinar técnicas realistas. Por meio do estêncil, viu a possibilidade de expressar-se e também uma forma de divulgar seu trabalho.

O artista tem como referências os artistas Black Larrate, Banksy e o Oravla Barata, com quem aprendeu a concepção do estêncil como arte, dos fundamentos da arte de rua e, que, no princípio, sua concepção da utilização do estêncil era como fundamento comercial sem fins artísticos.

O principal tema abordado que lhe deu divulgação e criou sua assinatura artística foi falar sobre a cultura indígena, como estêncils de índios intitulados Ancestralidade, em que o artista transforma rostos de indígenas com poucas cores em uma viagem enigmática aos retratos dos nativos da Amazônia.

Outro artista que produz em uma das linguagens da arte de rua em Parintins é o grafiteiro de codinome Anjo VII, que produz apenas os escritos do graffiti entre bombs, tags trazendo nos muros de Parintins a essência do graffiti. O artista produz as intervenções na cidade a mais tempo que Matos. Desde 2009 produz graffitis na cidade Parintins. Algumas de suas obras se perderam em decorrência do tempo, do clima e situações adversas do meio urbano.

Anjo VII começou com seu contato com a arte por meio do desenho, que praticava no papel e viu que tinha um estilo diferente, mas desconhecia ainda que seu estilo nos desenhos era o estilo graffiti. Foi a partir de um amigo que, admirado com seus trabalhos, o demostrou a ele que tinha uma tendência ao graffiti. A partir disso começou a pintar com seu amigo, mas em o primeiro contato com o jato da tinta na parede foi com uso do compressor. O contato com o uso do spray veio depois. Já são mais de 8 anos produzindo no universo do graffiti. Tomou conhecimento profundo do graffiti a partir de revistas, aprendendo empiricamente, conceitos, modos e estilos do universo do graffiti urbano.

Anjo VII busca trazer em suas intervenções a essência do graffiti, entre bombs, tags, justamente pelas influências de artistas que tem, como o grafiteiro britânico King Robbo, que trabalha com os escritos do graffiti; e como os muralistas mexicanos. Assim, o grafiteiro defende o que chama de graffiti vandal, que está à margem da sociedade, trazendo em seus trabalhos seus codinomes até críticas sociais.

Outros artistas inseridos entre os representantes da arte de rua na cidade de Parintins são a dupla Curumiz. O autor deste trabalho faz parte desta dupla, entrando também como pesquisador e pesquisa. Curumiz é um codinome usado pelos artistas Kemerson Freitas e Alziney Pereira, que trabalham no campo da arte urbana, utilizando a linguagem dos murais urbanos em suas produções artísticas, falando com a lata de spray. O início do trabalho vem da inquietação na busca de uma linguagem mais contemporânea sobre os temas regionais, na qual utilizam uma visualidade do irreal, imaginativo com um tom regional, cotidiano da cidade de Parintins, entre cores e linhas. A ideia partiu do mundo artístico da cidade que se baseia na pintura com verossimilhança. Os dois artistas buscam sair desse mundo da pintura realista. Ambos possuem 23 anos e são naturais da cidade de Parintins – Amazonas.

A idealização dos trabalhos se constituiu a partir da universidade na qual começaram pelo processo de aulas sobre poéticas visuais, feitos a partir de aulas de desenho, em que buscaram então ter uma arte que falasse da regionalidade amazônica de uma forma diferente, com estilo próprio. Esse embate então começou a sair do papel, e os dois então iniciaram ao suporte dos muros, falando através das latas de spray. As obras têm como objetivo falar da cultura amazônica como referência, as vivencias em Parintins, pessoas e crendices, trabalhando com um hibridismo imaginativo, com objetos da floresta amazônica como arvores, pássaros, lugares, já que esse imaginativo amazônico faz parte na cultura amazônica, como as mitologias indígenas que são também alvo do trabalho dos artistas.

Assim começaram a produzir os murais no ano de 2016. Logo no início, começaram pela colagem de papel, o lambe-lambe. Pela condição do clima da cidade, viram que estas colagens tinham durabilidade no máximo por duas semanas. Partiram então para a pintura direta no muro, com uso do sray e tinta látex, buscando sempre produzir murais com grandes alturas em Paritnins.

As produções vêm da influência de artistas como Os gêmeos e Eduardo Kobra, e Alex Diaz, Pichiavo, assim como sofrem influências de artistas tradicionais com Vincent Van Gogh e Salvador Dali.

Apesar da desconfiança, resistência e enfretamento, a arte de rua vem abrindo possibilidades de produções, despertando interesses de artistas que produzem em ateliê. Do mesmo modo as linguagens da arte de rua, como o graffiti, o estêncil vem trazendo um novo significado ao meio urbano de Parintins, a cidade se torna então uma galeria a céu aberto.

 

Procedimentos metodológicos

Nesta pesquisa, para se fazer análise das obras coletadas, foi utilizado o arcabouço teórico de Erwin Panosfky, que é a iconologia que, segundo Pifano (2010), se referindo ao método de Erwin Panosfky, “(…) é um método de interpretação que resulta, mais do que da análise, da síntese. Síntese de um quadro conceitual maior, de um contexto no qual a obra ou grupo de obras está inserido.” (PIFANO, 2010, p. 8).

Neste método são apresentados três níveis para descrever o tema de uma obra:

  • o primário que faz identificação das formas puras, das linhas, cores, que autor apresenta como motivos artísticos,
  • o secundário que liga os motivos artísticos aos conceitos e assuntos da obra, e por último,
  • o significado em que se revela “seu significado profundo, é compressão de seu significado intrínseco ou conteúdo.” (PIFANO, 2010, p. 5).

Estes três níveis estão ligados a três atos de interpretação abordados por Panosfsky (2009), o primeiro é a descrição pré-iconográfica onde se faz a identificação das cores, linhas, das formas puras; o segundo é a iconografia que o autor fala sobre a história dos tipos, “compreensão do porquê os temas ou conceitos formas representados por tais objetos e eventos” (DUCHEIKO; SILVA; NEVES, 2014, p. 5), para que seja feita uma análise iconográfica é necessário “a familiaridade com temas específicos ou conceitos, tal como são transmitidos através de fontes literárias, quer obtidos por leitura deliberada ou tradição oral (PANOSFKY, 2009, p. 59); o terceiro ato é a iconologia que faz a compreensão e reflexão sobre o momento histórico que a obra foi feita.

A cidade de Parintins como suporte da Arte Urbana

Nesta seção será feita a análise de obras coletadas dos artistas, cada uma será analisada a partir do método iconológico de Panofsky (2009) levantando discussões acerca das mesmas. A primeira obra é do grafiteiro Anjo VII que, segundo o artista, é uma homenagem à cultura indígena. Esta obra encontra-se próximo a uma praça de Parintins conhecida como “praça dos bois”, na rua Maués. Este trabalho foi produzido em tamanho aproximado de 2 metros.

As formas contidas na obra são vastas, em que estão dispostas três figuras centrais: duas figuras femininas e uma figura de um pássaro. Observamos que a primeira figura feminina representa uma criança indígena sentada, com gesto de olhar para baixo. Em seu corpo, linhas que representam um grafismo indígena por volta dela. O artista colocou um tom de cor verde para que desse a ilusão de iluminação ao redor da figura.

A segunda figura feminina foi feita apenas metade do corpo, do peito para cima, em que a figura está numa configuração gestual de braço estendido, segurando a terceira figura central que representa um pássaro da Amazônia, a Arara. A indígena contém objetos em seu corpo, como em sua cabeça um cocar, em seu braço estendido uma pulseira e na mão também. Em seu rosto, apenas um risco que denota um grafismo indígena. O artista utilizou também o efeito de brilho ao redor da indígena, com uso da cor amarela e branca. Em seu cabelo, o artista usou um tom de azul para dar este efeito.

Figura. 1- Anjo VII. Sem Título. 2018, graffiti, 3 m x 2,3 m. Fonte: Freitas, Kemerson, Fotografia, Parintins, 2018.

Este trabalho de Anjo VII tem como conteúdo a representação da cultura indígena, em primeiro momento recorresse ao que é entendido sobre a palavra “cultura” e “indígena” e seu conjunto ao todo. Segundo (SANTOS, 1994, p. 45) “a cultura é produto coletivo da vida humana”, ela é uma construção da história do homem permeando em seu processo social e de suas concepções, se permeando entre atividades individuais e coletivas.

Já a palavra “indígena” é sempre utilizada ao que diz respeito do homem que vive na natureza de uso de atividades dadas primitivas, de cultura particular ou se pode se dizer a ligação do “índio”:

O termo “indígena” já constituiu uma generalização ocidental para designar povos que se reconhecem por nomes distintos – Bororo, Kayapó, Karajá, Xavante, Asurini, Kadiweu, Yanonami entre outros – e que foram categorizados ao longo de um processo de colonização que considerava os diferentes como sendo todos iguais entre si, ou seja, quem não era branco, europeu, passou a ser indígena independente de se território, dos costumes de modo de vida. (BARBERO; STORI, 2010, p. 304).

Assim, a palavra “cultura indígena” é um processo variante que se designa ao total de atividades sociais e concepções das tribos, generalizando todas as etnias, em que dentro desta concepção há ramificações das particularidades de certas culturas indígenas, vista isoladamente a partir da etnia, sendo que cada etnia é diferente em sua cultura. Por exemplo, a cultura indígena Karaja se diferencia da cultura indígena dos índios Dessana.

Desse modo, a obra de Anjo VII traz a concepção geral das culturas indígenas, buscando falar de todas as tribos a partir da representação de duas figuras de mulheres indígenas, em que a primeira figura representa um ato comum dos indígenas, que é a pintura corporal com uma situação ritualística dando a partir de efeitos de fumaça próximo da figura e a segunda, a relação do indígena com a natureza, representada pelo ato de segurar a Arara. As linhas que aparecem no fundo dão também essa representatividade geral das tribos indígenas,

É uma obra que foi feita em 2018, período onde as influências de artistas urbanos da cidade Manaus e São Paulo se misturam com influências do graffiti visto em revista, dos bombs e tags que o artista já tinha como inspiração. Representa um estilo que foi se aprimorando na arte de rua da cidade de Parintins e que parte da construção de uma ideologia artística e da cultura do graffiti, de se fazer em seus murais como este, ainda mantendo o caráter do graffiti raiz.

Figura. 2 – Curumiz, Mãe da Terra, 2018, graffiti,4 m x 5 m. Fonte: Freitas, Kemerson, fotografia do autor, Parintins, 2018.

A segunda obra coletada é de autoria dos artistas Curumiz, intitulada de Mãe da Terra, encontra-se no muro de uma residência na cidade Parintins, medindo 4 metros de altura por 5 metros de largura. O mural compõe uma figura feminina com grafismo em seu corpo, amamentando uma criança em seu bração. Saem dela galhos e flores, onde a figura feminina com a criança encontra-se disposta dentro de uma figura geométrica pintada com azul. Há um fundo atrás desta figura geométrica com a cor amarela e linhas em movimento.

A análise iconográfica parte propriamente do nome da obra – Mãe da Terra, que por vezes está associada a Deusa-Mãe, que é a deusa que gera a vida, que cria a natureza, forma em pessoa que seria da terra, aparecendo em várias culturas a imagem do feminino, da mãe, que era ligada a representação da vida, da fertilidade que segundo (NASCIMENTO; POSSEBON, 2017, p. 93)

A imagem da deusa seria nesse caso a indicação sobre a fertilidade, ou seja, uma imagem sagrada sobre o ato de gerar conferido a mãe. Na busca pela vida a mãe seria a representação de gerar. Ela é a grande criadora. Com isso é frequente a ideia de uma sacralidade do feminino nos primórdios, pois a identificação da criação, da vida, estava sublinhada à estrutura feminina, essa era a associação que se indicava.

Da mesma forma, a obra busca também trazer a representação da maternidade, da fertilidade e da vida, pois também nas culturas indígenas, o feminino e a mãe têm um papel importante nas mitologias como criadora do universo, da terra e da natureza e de seus filhos da etnia citada no mito. A configuração formal da imagem da obra, principalmente da figura feminina como seu filho, se baseou nas pinturas católicas de Maria com o menino Jesus, como as Madonnas de Michelangelo, que transmitem uma relação maternal de mãe e filho, já que a imagem de Maria com o menino Jesus “desde muito, figurada com tanta intimidade, uma intimidade acentualmente feminina e do âmbito do lar e do carinho interdependente entre mãe e filho” (PORTELLA, 2018, p. 230).

Assim, a obra também busca ser o que é chamado de releitura que para (RANGEL, 2004, p. 48) “é uma nova visão, uma nova leitura sobre a obra já existente, uma nova produção com outro significado”. A obra tenta representar uma releitura de visão de Maria e Jesus mais voltada ao indígena, não partindo de uma referência de algum artista que fez a retratação de Maria com o menino Jesus, mas de um todo processo pictórico de várias representações destes personagens cristãos, onde tenta mostrar a relação maternal entre Maria e Jesus presente na cultura indígena.

Mãe da terra é um mural que foi construído em 2018, onde em sua interpretação iconológica observa-se que obra apresenta um conteúdo intrínseco. Primeiramente, um novo movimento artístico na cidade de Parintins, do street art, do graffiti feito em São Paulo e na capital Manaus, principalmente para os artistas Curumiz, onde grafiteiros como Os Gêmeos e o muralista Eduardo Kobra são influências diretas para os jovens artistas da cidade do interior do Amazonas. A obra apresenta este movimento de influências e ideologias da arte urbana, do graffiti, desde as cores até as formas visuais. Além disso, a obra busca dinamizar falas poéticas sobre representação da cultura indígena que são feitas por artistas da pintura em tela da cidade, com o pictórico que parta para o onírico. Assim também, as influências de estudos e críticas sobre religiões na Amazônia fazem que os artistas produzam poéticas sobre a cultura indígena e sua crença esteja de igual ou acima das crenças cristãs, como na obra Mãe da Terra, que mostra uma visão indígena maternal que se configura próxima à de Maria e o menino Jesus, mas em cuja intenção não é tornar estes personagens ligados ao cristianismo como figuras indígenas, mas que nos mitos e crenças de culturas indígenas a Mãe da Terra – Deusa Mãe se torna importante como um símbolo de criação da vida, do mundo, da natureza.

Figura. 3 – Mattos, Kaypo, 2018, graffiti, 3 m x 2 m. Fonte: Imagem cedida por Mattos, Parintins, 2018

Outra obra coletada é do artista Mattos, que utiliza o estêncil como expressão para fazer interferências artísticas urbanas. Kaypo é dos trabalhos da série Ancestralidade, que representa uma série de estêncils de retratos de indígenas de várias etnias do país

Este estêncil foi feito na esquina de um local abandonado, localizado na estrada Macurany, medindo aproximadamente 4 metros de altura. Ao observar este trabalho, percebe-se que, pela leitura da forma do estêncil, é possível descrever os motivos artísticos de Mattos, que propôs de modo diferente retratar o indígena, utilizando apenas três cores, dispostas em camadas distintas. Cada cor se configura para que o entendimento repentino do olhar caia sobre o reconhecimento de um rosto humano. Mattos buscou utilizar as cores justapostas, com o uso de lata de spray e tinta látex. A cor cria o alinhamento do formato do rosto, onde não há contorno de linhas, mas apenas as cores, que conseguem fazer as formas e ao mesmo tempo, servem como sentido de sombra, trazendo um teor em certo ponto obscuro.

O olhar é importante desta figura pois traz traços faciais que remontam ao estereótipo indígena. No reconhecimento, vemos que não há contorno de linhas, mas que apenas as cores conseguem fazer as formas. O artista utiliza nesta obra contrates de cores e luz para dar ênfase ao formato do rosto. Esse meio, segundo DONIS (2007, p. 118) é usado de via “como estratégia visual para aguçar o significado, o contraste não só é capaz de estimular e atrair a atenção do observador, mas pode também dramatizar esse significado, para torná-lo mais importante e mais dinâmico.”

De certo ponto, esse contraste entre cores e essa condição de luz e sombra consegue então atrair atenção para dinamizar a figura humana, sendo ponto principal do trabalho, a representação de um rosto. A obra em si busca em certo ponto trazer um realismo, de igualdade da forma humana de um rosto em especial, sendo que este ponto talvez seja essencial na proposta do artista.

O conteúdo da obra é a sequência de estêncils intitulada Ancestralidade que busca trazer a retratação de grupos étnicos da Amazônia através dessa linguagem, em que observamos uma representação do indígena através da arte. A representação do indígena na arte se remonta propriamente na História da Arte do Brasil, em que no processo de colonização do país, cronistas retratavam o índio como meio de apresentar as cortes portuguesas. As características de uma etnia e o índio também foram objeto de mostra da raiz da nação no período imperial:

Retratar o indígena é, em uma impressão, uma imposição temática: como pintar a história do Brasil sem figura-lo? Especialmente se levarmos em conta que o século XIX conferiu ao nativo um lugar na invenção das tradições levadas a cabo pelo Império. (STUMPF, 2014, p. 02).

O indígena foi utilizado nas artes como meio étnico de formação social e da miscigenação do povo brasileiro. Assim também a imagem do índio nas artes sofreu influências de literaturas indianistas. As pinturas da representação do indígena buscavam sempre trazer o nativo na natureza em seu cotidiano de pesca e caça, muito utilizado pelos artistas nortistas, num naturalismo.

Atualmente artistas trabalham com o índio com uma visualidade diferente e contemporânea até mesmo na arte urbana como o grafiteiro Crânio que retrata índios com a cor azul com tom crítico. A retração do indígena do trabalho de Mattos apresenta também uma linguagem contemporânea como objetivo de apresentar o índio Kaiapo. O artista não propõe a utilizar objetos ou grafismos indígenas para o reconhecimento de um índio Kaiapo. O artista trouxe para identificação desta etnia as principais cores de sua pintura corporal: o preto e o vermelho, usados bastante pela aldeia Kubenkokre. Segundo (SAMPAIO; TARDIVIO, 2010), essas cores são muito importantes para os índios que, por elas, manifestam sua cultura. Por exemplo, a cor vermelha traz a representatividade do sangue e também representa o material que eles usam, o urucum. A cor preta representa a criatividade, que é uma substância da natureza humana. Sendo assim, o tema que ele aborda tem com visão objetiva falar do índio Kaiapo, pois essa figura representa o índio ancestral, a raiz mais forte da região amazônica. Já que a questão ancestral indígena está, segundo o artista, dentro dele e tem uma importância pessoal, buscou trazer a situação cultural da cidade e região. Este trabalho teve o objetivo de mostrar, por meio realista uma etnia, a etnia Kaiapo.

A obra foi construída em 2018, ano em que o artista buscou fazer experimentações com o estêncil com uso de aparato tecnológico, onde a forma de se fazer esta obra, em princípio, criada com softwares que extraem formas simples com cores de fotos de imagens indígenas assim também, a obra reflete o contexto artístico e social, uma época em que alguns artistas buscam sair do suporte das telas e usar os muros para produção artística. Como o Mattos, que constrói em seus estêncis uma identidade visual própria, onde esse obra reflete a saída do artista do realismo ou hiperrealismo para um estilo mais da arte de rua, de influências de artistas que usam o estêncil. A obra compreende a retratação dos povos indígenas que sempre ocorreu pelos artistas da cidade de Parintins. Agora, alguns artistas usam um estilo formal e visual mais urbano, saindo do estilo das belas artes francesas, a exemplo de Mattos, que era uma artista que usava técnicas utilizadas na pintura em tela que chegasse à cópia perfeita da realidade, se encontrando na arte de rua, na linguagem do estêncil.

 

Conclusão

As representações das culturas indígenas sempre foram temas abordados por artistas brasileiros, que buscam trazer a essência ou matriz indígena da miscigenação que formou o povo brasileiro. Principalmente com os artistas do norte, onde a presença dessa cultura indígena se faz muito presente, em que pela arte, apresentam os mitos, as formas visuais que remetem às etnias presentes na Amazônia. E ao que ocorre na cidade de Parintins, onde artistas da arte de rua, que não são indígenas, buscam falar em suas poéticas sobre esses povos que diretamente influenciaram a cultura destes artistas, por meio do graffiti e do estêncil propõem falar sobre o indígena, colocando sobre meio urbano, usando o suporte dos muros e paredes. Cada obra reflete uma iconologia de influências do graffiti, da arte urbana feita em outros lugares. Fizeram assim um novo momento histórico da arte feita em Parintins, apresentando meios visuais diferentes pra do primeiros habitantes da Amazônia.

 

Referências

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SANTOS, José Luiz dos. O que é Cultura. 14 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

Nota

[1] Polo regional a leste do Estado do Amazonas está localizada a uma distância de 369 km (linha reta) e 420 km (por via fluvial) da capital Manaus. IBGE 2016 112, 176 habitantes.

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