Sobre a capa: Artemisia Gentileschi

Edição 37 editoriais

VIGNA, Carolina. Sobre a capa: Artemisia Gentileschi. In: Aguarrás, vol. 8, n. 37. ISSN 1980-7767. São Paulo: Uva Limão, JAN/JUN 2021. Disponível em: <https://aguarras.com.br/sobre-a-capa-artemisia-gentileschi/>. Acesso em: [current_date format=d/m/Y].

Artemisia Gentileschi (1593-1656) foi uma pintora barroca italiana, nascida em Roma. Conseguiu sucesso em vida e foi a primeira mulher a ser membro da Academia de Pintura de Florença.

Apesar de toda a virtuose na pintura, Artemisia não era alfabetizada.

Artemisia é mais um dos incontáveis casos de mulheres violentadas que passam por processos absurdos. Para conseguir algum senso de justiça, a família de Artemisia precisou provar que ela era virgem antes do estupro por Agostino Tassi e seu cúmplice Cosimo Quorli.

Tassi era um conhecido estuprador e já havia, inclusive, cumprido pena por outros crimes semelhantes. Ele violentou sua cunhada e sua falecida mulher. A esposa de Tassi havia desaparecido à época do julgamento e todos acreditavam que ele havia contratado seu assassinato.

O testemunho de Tassi foi tão falso e contraditório que o juiz precisou interromper várias vezes e pedir que parasse de mentir. Durante o julgamento, Artemisia foi amarrada e torturada para provar que falava a verdade. A tortura deixou sequelas em suas mãos. O julgamento levou sete meses e Tassi foi condenado a um ano de prisão, que nunca cumpriu.

A artista passou maus bocados, mas Artemisia conseguiu ressignificar o seu mundo através de sua arte.

A capa desse número do Aguarrás é um detalhe da obra Autorretrato como alegoria da pintura (La Pittura), de 1638-39, óleo sobre tela, atualmente no Palácio de Buckingham, em Londres. As edições digitais são apenas as de recorte e inclusão dos elementos da revista. A fonte da imagem foi o Google Art Project e está em domínio público.

Autorretrato como alegoria da pintura (La Pittura), de 1638-39 (sem edição)

O autorretrato tem um papel importante na História da Arte e é um subgênero do retrato. Há tanto uma certa curiosidade por parte do fruidor a respeito da aparência do artista, quanto uma questão mais profunda, de autoimagem, percepção e exercício de autocrítica. Essas são questões caras ao Aguarrás.

Nesse retorno às atividades, o Aguarrás passou, justamente, por uma enorme autocrítica e reformulação. Mudamos o modelo de submissão de artigos, a periodicidade, o foco, as normas de publicação e mais alguns detalhes. Por esse motivo, em respeito aos autores que participaram anteriormente do Aguarrás, não manteremos publicados os artigos da primeira fase.

Nosso momento político necessita fazer um autorretrato e uma autocrítica ou caminharemos a passos largos para a barbárie. O cenário da Cultura, das Artes e da Literatura tem sido ameaçado não pelos defeitos que possui mas a partir da incompreensão de suas qualidades.

Cabe a nós, em comunidade, propor esse autorretrato, de forma clara e inequívoca. Será através da reflexão, do pensamento e da crítica que nos manteremos vivos. Não há outro caminho possível.

Precisamos, nós também, ressignificar a vida e o mundo através da Arte.

 

Bibliografia recomendada

COHEN, Elizabeth S. The Trials of Artemisia Gentileschi: A Rape as History. In: The Sixteenth Century Journal, vol. 31, no. 1, 2000, pp. 47–75.

TREVES, Letizia. Artemisia in her own words. In: The National Gallery.

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